Chegou o momento mais importante da história recente da equipe de futebol feminino do Santos. Nesta semana, acontece a partida de volta das quartas de final do Campeonato Brasileiro Série A2, contra o Ação-MT. Após vencerem o jogo de ida por 1 a 0 fora de casa, as Sereias da Vila estão a um passo de garantir o acesso à elite do futebol nacional em 2026.
A classificação colocaria fim a um capítulo difícil da história recente do clube, marcado por instabilidade nos bastidores, mudanças bruscas no elenco e resultados negativos dentro de campo.
A queda: rebaixamento e turbulência nos bastidores
O ano de 2024 foi um dos mais conturbados da história do futebol feminino do Santos. A equipe foi rebaixada do Brasileirão Série A1 com uma campanha decepcionante: apenas 3 vitórias, 2 empates e 10 derrotas em 15 jogos. O rebaixamento foi confirmado com uma rodada de antecedência, após o empate por 1 a 1 contra o Botafogo, também rebaixado. Na rodada final, derrota por 6 a 2 para o Internacional, fora de casa, selou a despedida da elite de forma melancólica.
Nos bastidores, o cenário também era instável. Com a chegada da nova gestão comandada por Marcelo Teixeira, o departamento de futebol feminino passou por uma reformulação completa. No comando administrativo, Cássio Richter foi anunciado como diretor de futebol, mas pediu desligamento pouco tempo depois. A gestão passou então a ser coordenada exclusivamente por Thais Picarte. O clube nunca se pronunciou sobre a saída de Cássio.

As Sereias também enfrentaram trocas constantes na comissão técnica. A temporada começou com Bruno Silva, demitido após quatro rodadas. Na sequência, o clube optou por recontratar Kleiton Lima — técnico desligado meses antes após acusações de assédio moral e sexual. A decisão teve forte repercussão: 19 atletas entregaram cartas denunciando o treinador à diretoria. Após uma derrota e pressão pública, o clube rompeu novamente com Kleiton.
Em seguida, Glaucio Carvalho assumiu o comando, mas não conseguiu estabilizar o time. Seu retrospecto no Brasileiro foi de cinco derrotas, e no Paulista somou uma vitória, um empate e uma derrota antes de também ser demitido, logo após o rebaixamento no Campeonato Brasileiro.
Por fim, coube a Caio Couto — ex-treinador da equipe em outras passagens — a missão de concluir a temporada e fazer ao menos uma competição honesta na Conmebol Libertadores Feminina e conquistar o título da Copa Paulista.
Recomeço em 2025: reestruturação e foco no acesso
Com o rebaixamento consumado, o Santos iniciou 2025 com o objetivo claro de retornar à Série A1. Para isso, o clube priorizou a reorganização estrutural e manteve Caio Couto no comando técnico, agora com tempo para planejar a temporada desde o início. O treinador participou diretamente do processo de montagem do elenco, em parceria com a coordenadora Thais Picarte.
O Santos anunciou a renovação contratual de cinco jogadoras do elenco profissional e promoveu oficialmente cinco atletas das categorias de base ao time principal. Do grupo principal, tiveram seus vínculos estendidos a zagueira Rafa Martins e a meio-campista Nath Pitbull, ambas até o fim de 2026, além da meia-atacante Thaisinha, também com contrato até 2026, e da meio-campista Julia Daltoé e da atacante Carol Baiana, com acordos válidos até o fim de 2025.
Já entre os novos nomes promovidos da base estão a lateral-direita Barbara Cuzzuol, a goleira Michelle Stildes, a zagueira Raissa Calheiros e as atacantes Isa Viana e Ana Barboza — todas com idades entre 19 e 20 anos e contratos assinados até o final de 2025, com exceção de Isa Viana, que assinou até o fim de 2026.
Foram contratadas 11 jogadoras, na busca por mesclar experiência e juventude. Algumas retornaram ao clube com o propósito de recolocar as Sereias na elite do futebol feminino. Os reforços incluem:
• Goleira: Ágatha Basílio
• Zagueiras: Ana Alice, Pardal e Ingryd Avancini
• Laterais: Evellyn Marques e Leandra
• Volante: Rafa Andrade
• Meias: Giulia Giovanna e Nicole Marrussi
• Atacantes: Analuyza e Laryh
A experiência começou a fazer sentido com a atacante Laryh, artilheira da Série A2. Atualmente, a jogadora é a goleadora do clube na temporada, com cinco gols em 12 partidas, e também se destaca como a principal assistente do elenco santista, com quatro passes para gol.
Entre os nomes mais jovens, Analuyza também cresceu de produção. Após retornar à Vila Belmiro, depois de uma passagem pelo Internacional, assumiu a titularidade e soma 12 jogos, cinco gols e uma assistência.

A campanha na Série A2 tem sido consistente. Além da boa vantagem nas quartas de final, o time mantém uma invencibilidade que reforça o trabalho de reconstrução em curso. O elenco demonstra equilíbrio e tem apresentado boa resposta às propostas táticas de Caio Couto.
Com 19 pontos, o Santos garantiu a liderança isolada do Grupo A e terá a vantagem de decidir em casa nas fases eliminatórias. O desempenho também rendeu uma marca expressiva: desde a adoção do formato atual da Série A2, em 2023, apenas duas equipes atingiram essa pontuação na primeira fase — as Sereias da Vila e o 3B da Amazônia.
Mais que o acesso: planejamento para o futuro
Além do Brasileiro Série A2, as Sereias disputam em 2025 o Campeonato Paulista e a Copa do Brasil. As duas competições são vistas como importantes não apenas pelo calendário competitivo, mas pela possibilidade de premiação em dinheiro — essencial para um projeto de médio e longo prazo mais sólido.
A ideia da comissão técnica e da diretoria é utilizar os recursos obtidos com premiações e possíveis patrocínios para estruturar um elenco mais robusto para 2026. O objetivo é claro: consolidar o retorno à elite e, mesmo com orçamento reduzido em relação aos principais rivais, buscar campanhas competitivas e protagonismo no cenário nacional.

Semana decisiva
Com a vantagem no confronto diante do Ação-MT, as Sereias da Vila vivem dias de expectativa. Um bom resultado no jogo de volta garante não apenas a classificação para as semifinais, mas também o retorno à Série A1 — um passo fundamental no processo de reconstrução de um dos nomes mais tradicionais do futebol feminino brasileiro.
Depois de uma temporada marcada por dores e rupturas, o Santos feminino quer fazer da temporada 2025 o início de uma nova era.
*Sob a supervisão de Guilherme Lesnok