Maurine Dorneles Gonçalves, popularmente conhecida como Maurine, é uma das maiores jogadores da história do Santos. Com 57 gols e sete títulos conquistados, inclusive o da Libertadores marcando gols em final, a ex-atleta vive uma nova fase pessoal: aposentadoria e o futuro em aberto.
Nesse Dia Internacional da Mulher, o Portal Sereias conversou com Maurine, que refletiu sobre questões como a valorização das jogadoras, a diferença de tratamento entre os gêneros e os desafios financeiros que o futebol feminino ainda enfrenta.
Valorização do futebol feminino: uma evolução lenta, mas visível
Quando questionada sobre a valorização do futebol feminino nos dias de hoje, Maurine destacou que, apesar dos avanços, a luta por reconhecimento ainda é constante.
“Enxergo uma melhoria em alguns clubes, sim. Quando comecei, era muito mais difícil a visibilidade, até mesmo a estrutura. Então, hoje teve uma melhora significativa”, afirmou a ex-jogadora, que viveu de perto as dificuldades de um futebol ainda marginalizado, mas que aos poucos ganha mais espaço.

O preconceito sempre foi uma barreira que Maurine teve que enfrentar ao longo de sua trajetória no esporte. Para ela, essas dificuldades foram uma forma de crescer e mostrar que o espaço das mulheres no futebol precisa ser cada vez mais respeitado.
“O maior desafio foi o preconceito. Na época em que eu jogava, era muito mais difícil as pessoas aceitarem mulher no futebol. Mas venci esse preconceito. Sofri muito no começo, mas soube lidar super bem”, contou.
Inspiração no futebol feminino
Maurine fez parte de uma geração histórica do futebol feminino do Santos e do Brasil. Em seu currículo, acumula conquistas importantes, como a Libertadores (3x), a Copa do Brasil (3x), o Campeonato Paulista (3x) e o Carioca.
Embora tenha encontrado apoio em sua família, Maurine também teve uma grande referência no futebol feminina.
“Na verdade, foi minha família que me inspirou e me apoiou na época em que eu jogava, mas sempre admirei Sissi. Com toda dificuldade, ela teve uma carreira brilhante”, explica.
O Santos e as dificuldades enfrentadas
O Santos sempre foi considerado uma referência no futebol feminino, mas recentemente passou a enfrentar sérios problemas internos que culminaram em um rebaixamento inédito na categoria.
“Realmente, o Santos sempre foi a nata do futebol feminino. Creio que falta mais respeito da parte da diretoria com as meninas para que possam manter a modalidade. Percebi que, há alguns anos, a modalidade foi deixada um pouco de lado”, disse.

A ex-jogadora preferiu não comentar diretamente sobre os casos de abuso, afirmando que quem realmente pode falar sobre isso são as pessoas que estavam presentes na situação.
“Sobre o abuso, não soube muito a fundo o que realmente aconteceu. Na verdade, nem posso falar sobre, porque não estava presente no momento. Acho que quem pode falar realmente é quem estava lá. Mas, se for verdade tudo isso, acho que o clube deveria tomar uma atitude”, completa.
O lado financeiro do futebol feminino
Uma das questões que ainda afeta o futebol feminino é a disparidade financeira em relação ao masculino. Maurine lembrou que, ao longo de sua carreira, nunca teve uma segurança financeira que os jogadores homens possuem.
“Creio que nada no feminino é igual ao masculino, pois no futebol feminino não temos garantia de nada. Encerramos a carreira e, quem conseguiu fazer um pé de meia no futebol, agradeça, porque nunca, na minha época, ganhamos muito dinheiro. Consegui comprar minha casa, meu carro, mas preciso agora trabalhar para poder manter minha renda”, esclarece.

A aposentadoria, maternidade e o futuro no futebol
Embora tenha se aposentado dos gramados, Maurine brincou recentemente nas redes sociais sobre uma possível volta aos campos, algo que gerou rumores entre os torcedores.
“Brinquei, sim (risos), e realmente eu me aposentei, com muito orgulho da minha carreira e por tudo que vivi”, explica.
No entanto, a ex-jogadora tem planos para continuar sua relação com o futebol após a aposentadoria oficial e deixou portas abertas para um retorno ao Santos.
“Eu pretendo, sim, trabalhar no futebol. Estou aguardando um convite do Santos para que eu possa contribuir com o clube”, revelou.
Maurine destaca como a maternidade tem sido uma experiência única e planejada em sua vida, especialmente após a aposentadoria dos gramados. Ao contrário do que ocorre com muitas jogadoras que precisam de uma pausa para recuperação física após a carreira profissional, a ex-jogadora do Santos se sentiu pronta para dar esse passo sem dificuldades, pois sua aposentadoria foi planejada de maneira estratégica.
Hoje, além de manter sua forma física, ela consegue conciliar o cuidado com a filha, evidenciando que o momento pós-carreira, embora desafiador, também pode ser repleto de novas conquistas pessoais e de saúde.
“A experiência de ser mãe é única. Eu consigo manter minha forma física e ainda brincar, cuidar da minha filha. Sim, foi pensada e planejada. Eu não tive problema com essa pausa porque me aposentei e, hoje, faço mais por saúde”, finaliza Maurine.
Confira a entrevista na íntegra:
- Portal Sereias: Como você enxerga a valorização do futebol feminino atualmente?
Maurine: Enxergo uma melhoria em alguns clubes, sim. Quando comecei, era muito mais difícil a visibilidade, até mesmo a estrutura. Então, hoje teve uma melhora significativa. - Portal Sereias: Quais foram os principais desafios que você enfrentou como mulher no esporte? Alguém te inspirou?
Maurine: O maior desafio foi o preconceito. Na época em que eu jogava, era muito mais difícil as pessoas aceitarem mulher no futebol. Mas venci esse preconceito. Sofri muito no começo, mas soube lidar super bem. Peguei como um desafio para que eu pudesse crescer na minha carreira e mostrar que esse pensamento poderia ser diferente. - Portal Sereias: Houve alguma mulher que te inspirou a seguir carreira no futebol?
Maurine: Na verdade, foi minha família que me inspirou e me apoiou na época em que eu jogava, mas sempre admirei Sissi. Com toda dificuldade, ela teve uma carreira brilhante. - Portal Sereias: O Santos sempre foi um clube referência no futebol feminino. Nos últimos anos, no entanto, o clube precisou lidar com denúncias de abuso sexual e moral. Como você enxerga essa situação?
Maurine: Realmente, o Santos sempre foi a nata do futebol feminino. Creio que falta mais respeito da parte da diretoria com as meninas para que possam manter a modalidade. Percebi que, há alguns anos, a modalidade foi deixada um pouco de lado. Sobre o abuso, não soube muito a fundo o que realmente aconteceu. Na verdade, nem posso falar sobre, porque não estava presente no momento. Acho que quem pode falar realmente é quem estava lá. Mas, se for verdade tudo isso, acho que o clube deveria tomar uma atitude! - Portal Sereias: Diferente do masculino, jogadoras do feminino, quando encerram a carreira, nem sempre vivem o mesmo mundo que os homens, principalmente pela questão financeira. Como mudar isso? Essa questão já começa durante a “boa fase” da carreira das atletas?
Maurine: Creio que nada no feminino é igual ao masculino, pois no futebol feminino não temos garantia de nada. Encerramos a carreira e, quem conseguiu fazer um pé de meia no futebol, agradeça, porque nunca, na minha época, ganhamos muito dinheiro. Consegui comprar minha casa, meu carro, mas preciso agora trabalhar para poder manter minha renda. - Portal Sereias: Você se aposentou, mas brincou nas redes sociais recentemente com o Santos sobre uma possível volta. A Maurine deixou mesmo os gramados? Ou ainda existe uma possibilidade de voltar?
Maurine: Brinquei, sim (risos), e realmente eu me aposentei, com muito orgulho da minha carreira e por tudo que vivi. - Portal Sereias: Quando a aposentadoria for oficial, pretende continuar trabalhando no esporte?
Maurine: Eu pretendo, sim, trabalhar no futebol. Estou aguardando um convite do Santos (risos) para que eu possa contribuir com o clube. - Portal Sereias: Como a experiência de se tornar mãe impactou sua rotina? E de que maneira você concilia as demandas de ser atleta e mãe?
Maurine: A experiência de ser mãe é única. Eu consigo manter minha forma física e ainda brincar, cuidar da minha filha. Sim, foi pensada e planejada. Eu não tive problema com essa pausa porque me aposentei e, hoje, faço mais por saúde
*Sob a supervisão de Guilherme Lesnok