Analuyza exalta 113 anos do Santos, aponta legado no feminino e agradece: ‘Me formou mulher’

Por: Guilherme Lesnok, Isabela Freschi e Jonathan Luan* | 14 de abril de 2025 | 18:00
Analuyza está de volta ao Santos (Foto: Bruno Vaz / Santos FC)
Analuyza está de volta ao Santos (Foto: Bruno Vaz / Santos FC)

O Santos trata a temporada de 2025 como uma oportunidade para reconstruir o clube após o inédito rebaixamento à Série A2 do Campeonato Brasil Feminino. A temporada é uma oportunidade para o clube recolocar as coisas no lugar e iniciar uma nova história. De certa forma, para uma das atletas contratadas, o cenário é o mesmo: Analuyza. 

Formada nas categorias de base do Santos, que completa 113 anos nesta segunda-feira (14), e com passagens pelas seleções de base, Analuyza está de volta ao clube. O objetivo da atacante é ajudar as Sereias da Vila a conquistarem o acesso à Série A1 do Campeonato Brasileiro. Para ela, o retorno representa uma oportunidade de retomar o protagonismo que alcançou nas categorias de base.

Em entrevista exclusiva ao Portal Sereias, ela falou sobre sua trajetória, as dificuldades enfrentadas no início da carreira e as expectativas para a temporada, além de destacar a importância do Santos, clube que completa 103 anos, em sua formação, tanto como atleta quanto como mulher.

Começo na base do Santos e apoio da família 

Analuyza iniciou sua trajetória no futebol de maneira modesta, em Cristalina, uma pequena cidade do interior de Goiás. Desde jovem, ela participou de torneios regionais, sempre ao lado de seu tio Rafa, que a levava para jogar em cidades como Goiânia e Brasília. 

A jogadora lembra das viagens e das conversas com seu tio, nos quais ambos sonhavam em vê-la vestindo a camisa do Santos. Aos 13 anos, enquanto jogava pelo Aliança, em Goiânia, recebeu a notícia de que teria a chance de fazer um teste no clube paulista. 

“Eu jogava nas cidades vizinhas de onde eu morava, em Cristalina, no interior de Goiás, e quem me levava nessas viagens era meu tio Rafa. A gente sempre comentava: ‘Um dia a gente vai jogar no Santos’. Nós viajávamos para Brasília, Goiânia, para jogar alguns torneios mesclados e adultos. Eu tinha uns 13, 14 anos e estava em Goiânia, jogando pelo Aliança, quando meu tio me ligou e perguntou: ‘Você quer fazer a peneira no Santos?’. Eu falei: ‘Quero!’ E ele me respondeu: ‘Estou indo te buscar, o teste é amanhã às 14h’. Isso era por volta das 22h de um domingo, e eu teria que estar às 14h em São Paulo, onde nós treinaríamos para a peneira”, diz.

Analuyza foi campeã da Copa Paulista pelo Santos em 2020 (Foto: Pedro Ernesto Guerra Azevedo/ Santos)

“Eu pensei: ‘Ele vai sair de Cristalina, vir até Goiânia, e nós vamos para São Paulo de carro?’, e não acreditei. Aí ele me disse: ‘Sua mãe já fez a sua inscrição e eu estou indo te buscar, amanhã às 14h’. Fiz a peneira e, no mesmo dia, eles me disseram que eu tinha passado. Foi assim que tudo começou”, seguiu.

O apoio da família sempre foi essencial na jornada de Analuyza, especialmente nos primeiros anos de sua carreira. Crescer em uma cidade pequena significava que as oportunidades no futebol eram limitadas, mas seus pais nunca se opuseram ao seu desejo de jogar. 

“Eu tinha que viajar de 4 em 4 horas para Goiânia, e foi o meu tio quem me levava. Ele me ajudava a ir e voltar, acompanhando os meus treinos e jogos”, explica. O apoio familiar não foi apenas logístico, mas também emocional, algo que lhe deu a confiança necessária para dar os passos rumo ao sonho de se tornar profissional”, comenta.

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“Eles sempre me apoiaram, sempre me deram esse incentivo desde pequena. Meu pai e minha mãe não se importavam de eu jogar, mas, querendo ou não, eu só jogava na minha cidade, uma cidade pequena no interior de Goiás, e não tinha tantas oportunidades. Em 2017, eu pude jogar minha primeira Liga de Desenvolvimento pelo Aliança-Goiás, e, nisso, eu precisava fazer as viagens para Goiânia para jogar. Era a cerca de 4h da minha cidade, e aí que meu tio entra na história, porque era ele quem me levava. Ele começou a gostar de me levar, e eram 2, 3 vezes por semana. Saía da escola, pegava o carro e já íamos para Goiânia para eu treinar. Quando joguei a Liga de Desenvolvimento, passei a ter mais contato e jogar com outras meninas”, completa.

Pressão por jogar no Santos e importância do clube

Analuyza relembra com carinho o início de sua trajetória no Santos e o impacto que a chegada ao clube teve em sua visão do futebol. Ela conta com entusiasmo sobre a experiência de estar em um ambiente profissional, cercada por jogadoras de alto nível.

“Eu e meu tio sempre falávamos que íamos jogar no Santos um dia, quando eu era pequena, mas era algo só de imaginar. Quando cheguei aqui no Santos, eu nunca tive tanto contato com tantas meninas boas, de estar na base de um clube, e eu ficava tipo ‘caraca, que maneiro’. Foi tudo muito natural, e a comissão que eu tive na base, quando cheguei no Santos, era uma comissão muito ‘da hora’. Era o Ricardo, e a preparadora física era a Vivi. Foi muito natural. Eu sempre me identifiquei muito com o clube porque eu assistia muito o Neymar e sempre gostei muito de ver os jogos do Santos. E chegar aqui foi um sonho vivido da melhor forma”, explica.

Analuyza iniciou a carreira na base do Santos (Foto: Pedro Ernesto Guerra Azevedo/ Santos)

Ela também revela como sua forma de encarar o futebol nunca foi marcada pela ansiedade, sempre buscando levar a experiência com leveza e confiança.

“Eu nunca tive uma ansiedade absurda por jogar, e como eu sempre tinha meu tio do meu lado e nós sempre falávamos ‘hoje no jogo você fazer isso e aquilo’, então sempre levei isso com muita leveza. Com meu tio ali comigo, era como se fosse um amigo, e para mim sempre ficou mais fácil. Era como se eu estivesse jogando só mais um jogo, desde quando eu jogava futsal em Brasília, nos times que eu jogava”, detalha.

Para Analuyza, o Santos é muito mais do que apenas um clube onde ela desenvolveu sua carreira profissional. O Santos representa a realização de um sonho que, até alguns anos atrás, parecia impossível. 

“Eu sou muito grata ao Santos. Foi o clube que me formou como atleta, mas também como pessoa e mulher. Passei a maior parte do meu tempo aqui e fui ajudada por muitos profissionais, dentro e fora de campo”, destaca. A jogadora é enfática ao afirmar que sua passagem pelo clube foi fundamental para seu crescimento pessoal e profissional. Para ela, o Santos tem uma importância gigantesca, não só na sua vida como jogadora, mas também como indivíduo”.

“Estar no time com pessoas como a Thaisinha, o Neymar, é algo surreal. São pessoas que eu admiro, e poder estar no mesmo clube que elas é como realizar um sonho”, afirma. Analuyza tem uma identificação profunda com o clube, especialmente pelo estilo de jogo ofensivo que sempre caracterizou o Santos, algo com o qual ela sempre se alinhou. Para ela, jogar no Santos é a concretização de um desejo que vem de longa data”, conclui.

Desafios na carreira e readaptação ao Santos

A adaptação de Analuyza ao time profissional foi marcada por desafios, mas também por momentos de conexão com suas companheiras. Para ela, apesar de ter sido uma experiência diferente, foi uma fase positiva.

“Não foi difícil, mas foi diferente de um jeito bom. Foi ali que eu conheci a Laura, a Lu, a Sassá, a Amanda, que foram as meninas que subiram comigo. E ali, todas nós estávamos sem nossa família, sem a nossa segurança, e nos abraçamos. Conseguimos segurar as coisas e viver bons momentos”, relembra.

A jogadora também destacou o impacto da pandemia em sua primeira experiência no time profissional, que foi um ano atípico para todos.

“No ano que eu subi, eu fiquei duas semanas no profissional e, logo depois, começou a pandemia de COVID-19. Fomos forçadas a ficar quatro meses em casa e, quando voltei, passei mais uma semana no clube e logo já fui para a seleção. Tínhamos muitos jogos naquela época, e as meninas sempre foram muito tranquilas e de boa, sempre tive uma boa relação com as atletas com quem já trabalhei. Foi um ano muito maluco por causa da COVID-19 e foi bem atípico”, conta.

Analuyza retorna ao Santos após duas temporadas no Inter (Foto: Bruno Vaz / Santos FC)

Ao falar sobre suas ambições para a carreira, Analuyza revelou seu maior sonho: ser campeã da Libertadores.

“Meu sonho é ser campeã da Libertadores, é uma competição que eu acho muito top e é meu maior sonho. Toda competição que a gente chegar, eu quero ganhar. De verdade, eu nem olho muito para a competição em si, mas quero ganhar a qualquer campeonato”, afirma.

Evolução do Futebol Feminino e o papel do Santos

Analuyza também comentou sobre a evolução do futebol feminino e o papel fundamental que o Santos tem nesse processo. Para ela, o investimento contínuo nos clubes de futebol feminino é essencial para o crescimento da modalidade.

“As Sereias sempre foram um nome forte no futebol feminino, e ver que a maioria dos clubes masculinos da Série A tem essa obrigação de investir, e que muitos realmente investem e dão estrutura para as jogadoras, isso é muito bom. Eu acho que, para o futebol feminino crescer, é necessário investimento e trabalho de verdade. Todo mundo precisa estar trabalhando, com o investimento do clube e a dedicação das atletas, para que as coisas aconteçam”, diz.

Quando perguntada sobre o que espera do futuro do Santos e a mensagem que gostaria de deixar, Analuyza fez questão de destacar a importância do DNA do clube.

“Que o clube seja sempre esse clube de DNA alegre e ofensivo, porque é isso que diferencia o Santos dos demais clubes. Todo mundo que passa por aqui leva essa característica para outros lugares. A gente vê muitos atletas do time masculino que passaram pelo Santos, como o Neymar, o Rodrygo e o nosso Rei Pelé. É o DNA do Santos, e é isso que é diferente de todos os outros”, finaliza.

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RENILCE Oliveira
RENILCE Oliveira
8 dias atrás

Parabéns ao Peixe e a minha filhota , muitas vitórias e benções vcs receberam 🙏🙌🖤🤍

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